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Ouro, Azul e Verde: Brasileiros em Queluz e Belas

A comunidade Brasileira é atualmente a maior comunidade imigrante em Portugal. É também a maior comunidade imigrante presente em Queluz e Belas.

A história dos movimentos migratórios entre Portugal e o Brasil é muito antiga: a partir de meados do século XIX, e até ao princípio do século XX, milhares de Portugueses partiram para o outro lado Atlântico em busca de melhores condições de vida, e/ou atraídos por sonhos de riqueza. 

No Brasil, estes Portugueses integraram as grandes campanhas de colheita do café, borracha e cacau. Outros estabeleceram-se como comerciantes nas principais cidades, como o Rio de Janeiro e Brasil. Os que prosperavam tendiam a regressar a Portugal em final de vida, onde geralmente se instalavam nas suas terras de origem em luxo e conforto. Eram os chamados “torna-viagem” ou simplesmente “brasileiros”.

Para além disso, muitos destes emigrantes constituíram família no Brasil, pelo que é comum existirem laços de parentesco entre famílias do lado de cá e de lá do oceano. 

O cidadão brasileiro opta por migrar para Portugal devido a vários fatores que lhe são específicos: a língua em comum, , laços de família e a possibilidade de naturalizar-se português, devido aos diversos acordos bilaterais entre Brasil e Portugal. Outros fatores de atração são a educação de elevada qualidade, a segurança e uma boa qualidade de vida. 

A imigração Brasileira para Portugal acentuou-se na viragem para o século XXI, sendo inicialmente residual e composta por trabalhadores qualificados. Ao longo do tempo, Portugal atraiu grandes massas de trabalhadores Brasileiros menos qualificados, que se integraram sobretudo na construção civil, no trabalho doméstico e no comércio.

Movida pela esperança num futuro mais seguro e com maiores possibilidades, a imigração Brasileira não dá sinais de abrandar – mas sim de se enraizar na cultura do dia-a-dia deste território. Provenientes sobretudo do Nordeste Brasileiro e do Estado de Minas Gerais, os imigrantes Brasileiros transformaram Queluz e Belas com os seus sabores, a sua música, o seu português cantado e a sua força de não desistir nunca.
 

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Maciela Santos
24 anos

Nasceu em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil

Vive há 4 meses em Queluz


Maciela nasceu numa cidade vizinha à capital do Estado Brasileiro do Recife. Jaboatão dos Guararapes.Os pais de Maciela são ambos pernambucanos - a mãe do interior do Estado, o pai da região metropolitana do Recife.

Maciela começou a trabalhar com 12 anos. “Ganhei o mundo muito cedo!”, comenta. Engravidou no primeiro ano do Ensino Médio, com 16 anos. “Mas consegui conciliar os estudos, nunca parei de estudar.(…) Fiz vários cursos, principalmente na área da gastronomia.”

Maciela é confeiteira há cerca de 7 anos. Em Jaboatão, fazia e vendia doces enquanto trabalhava como administrativa na área financeira. Diz que, nessa altura, os doces “Eram uma renda extra!”
Em 2019, e de forma a acompanhar a filha doente, demitiu-se do seu trabalho e abriu uma pequena banca de rua no seu próprio bairro. Cozinhava em casa, e na rua vendia primeiro doces e bolos, depois até refeições.

Em 2021, passou a ser responsável por um restaurante de comida Nordestina caseira. Maciela tratava das sobremesas, e a cozinheira era a sua mãe. Mas, confesssa, “Eu não tinha experiência com um público tão vasto! Até ali, os meus clientes eram amigos, ou amigos de amigos… Havia uma relação afetiva, muitos tinham-me visto crescer.”

Era demasiado stressante, a saúde de Maciela ressentiu-se, e decidiu fechar o restaurante. Mas era mais do que isso: “Eu também me sentia limitada! Para mim, era como se as possibilidades ali [em Jaboatão] tivessem acabado. (…) Estava muito difícil, com a inflação e tudo o mais…. As pessoas não queriam pagar o preço justo.”

Maciela recebeu então a proposta de um amigo (igualmente confeiteiro): estava prestes a emigrar para Portugal, e desafiou-a e à família para se lhe juntarem. Aceitaram, entusiasmados. Mas, conta-nos, ela não podia ainda partir - havia muitas questões práticas e familiares por resolver.

O marido de Maciela seguiu primeiro, e ela e a filha juntar-se-lhe-iam mais tarde. “O meu marido tinha uma mota para vender. No começo de Novembro [de 2021], num dia, colocou a mota para vender. No outro dia, compraram a moto.” Com o dinheiro da moto, o marido de Maciela comprou o bilhete para Portugal, onde chegou a 7 de Dezembro.

Maciela e a filha chegaram a Portugal em Maio de 2022. Os seus bilhetes de avião foram comprados com dinheiro que o marido entretanto ganhou a trabalhar num restaurante numa grande superfície comercial.
“Ele ficou em Arroios [Lisboa], eu acho. (…) Ele e um amigo ficaram num hostel, um mês e pouco. Alugaram um quarto. (…) Na semana em que eu cheguei, ele já tinha conseguido alugar um apartamento [em Queluz] e eu já vim diretamente para aqui.”

Maciela e a família moram em Queluz, “próximo dos Bombeiros e na rua da esquadra [da PSP]. Foi um lugar ideal para recomeçar, eu achei ótimo! (risos)”. Neste momento, a família ocupa um quarto num apartamento que dividem com um amigo.

Do que gosta mais em Queluz? Responde sem hesitar: das pessoas. “Realmente, encontrei muitas pessoas de luz em Queluz! Estou tendo uma experiência muito boa com as pessoas aqui.”

Também aprecia a segurança: “Eu fui assaltada cinco vezes no Brasil num só ano! É horrível: não se consegue mexer no telemóvel [na rua] se estar a olhar por cima do ombro.(…) Morávamos numa comunidade, não num bairro comercial, e era um lugar bastante marginalizado. Sobretudo para a minha filha, não havia muitas oportunidades.”

A questão financeira limitou muito as oportunidades de Maciela no Brasil – algo que não deseja para a filha. “Com o salário mínimo no Brasil, eu não conseguia”, desabafa. Acredita que a filha vai beneficiar de melhores condições em Portugal, sobretudo no que toca à educação e saúde.

Ao instalar-se em Queluz, retomou a produção de doces a partir da sua própria casa. Utiliza as redes sociais para divulgar o seu trabalho, mas também para partilhar a sua experiência com outros profissionais da área. Entretanto, tornou-se voluntária na associação Pendão em Movimento. “Encaixei-me direitinho, está a ser muito bom fazer parte daquele espaço!”

O marido de Maciela tem formação como projetista, e conseguiu entretanto voltar a trabalhar na sua área de especialidade: a marcenaria. Neste momento, “Está a montar cozinhas em apartamentos, numa obra enorme no Parque das Nações [em Lisboa]”. Maciela está a estimulá-lo para voltar a estudar, talvez na universidade: “Arquitetura, design de interiores… Qualquer coisa assim!”

De que tem mais saudades do Brasil? “De algumas comidas! [risos] Ah, o arroz e feijão da minha mãe…”

E o que mais estranhou na chegada a Portugal? “Ah, a temperatura! Frio… [risos]”

Mas, refere, “As oportunidades que tenho aqui, os meus planos futuros… As coisas estão a encaixar-se. Parece que tudo aqui faz muito mais parte de mim do que lá.”

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